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Bento XVI e Gregório XII - Duas resignações

Domingo, 03.03.13

Gregório XII foi o papa que renunciou antes de Bento XVI, em 1415. Fê-lo para pôr termo ao “Grande Cisma do Ocidente” que dividiu a Igreja católica entre duas autoridades máximas: a do Papa de Roma e do Papa de Avinhão (1378 – 1417). Antes, em 1294, tinha ocorrido outra renúncia, a do papa Celestino V (S. Celestino). As facções dos Orsini e dos Colonna não se entendiam na eleição de um novo Papa e um dia receberam uma carta intimidatória de um ermita, Pedro de Morron. Avisava ela que se não fosse eleito rapidamente um novo Papa os responsáveis iriam para o inferno. Pedro tinha agrupado à sua volta um núcleo de fervorosos díscípulos e a sua carta constituíu um verdadeiro choque. Sem hesitar, os Orsini e os Colonna escolheram-no para Papa. Mas Celestino V não conseguiu lidar com os vários poderes e, após decepções e pressões, a sua resignação foi imposta pela violência cinco meses depois. Morreu na prisão e foi canonizado em 1313 pelo Papa Clemente V.

O "Grande Cisma do Ocidente" - Os Papas de Avinhão e de Roma

À morte de Gregório XI (papa de 30 de Dezembro de 1370 a 27 de Março de 1378, de naturalidade francesa e com residência em Avinhão), o Conclave, reunido sob fortes e violentas pressões populares contra o predomínio dos legados franceses e reclamando um papa romano ou, pelo menos, italiano, elegeu o arcebispo de Bari, Bartolomeu Prignani sob o nome de Urbano VI.

                                        

                                              St.ª Catarina e Gregório XI

A Europa estava em guerra, a Igreja também.

                                       

                          O Papa Urbano VI assediado no castelo de Nocera

As dúvidas quanto à legalidade da eleição e discutíveis nomeações cardinalícias, que reduziam a representação francesa no Sacro-Colégio, conduziram à revolta de treze cardeais franceses que declararam anticanónica a eleição de Urbano VI e elegeram como papa o cardeal Roberto de Genebra, o qual tomou o nome de Clemente VII.

Era o “Grande Cisma do Ocidente” que durou mais de 52 anos e só terminou com as decisões tomadas no Concílio de Constança (1414 -1418).

                           

                           Urbano VI                              Clemente VII

Os cardeais partidários de Clemente (que se instalou em Avinhão) visitaram os diversos reinos cristãos defendendo a sua legitimidade. Conseguiram-no com Carlos V de França que foi acompanhado pelas casas reinantes das nações suas aliadas, nomeadamente pela Espanha (Henrique II de Trastâmara) e pela Escócia. A Itália, o Império, as nações escandinavas, a Hungria e a Inglaterra (Edward III), apoiaram Urbano VI, tal como Portugal desde D. Fernando.

(” D. Lourenço, arcebispo de Braga e 86º primaz das Espanhas, apresentou-se à frente do exército de D. João com armadura completa e, trazendo uma cruz alçada, abençoou os combatentes, prometendo absolvição em nome de Urbano VI, a todos os que combatessem contra os cismáticos castelhanos, partidários do anti-papa Clemente VII (...após as acções de bom pastor, passou o arcebispo às de bom cavaleiro....morreu na batalha (Aljubarrota) e foi sepultado na Sé de Braga em 1397; o seu actual monumento é do ano de 1663 e foi erigido por um dos seus sucessores..nunca se pôde saber com certeza o nome da família deste célebre príncipe da Igreja” ).

Em Avinhão, a Clemente VII sucederam Benedito XIII, Clemente VIII, Benedito XIV.

Em Roma, a Urbano VI (1378-1389) sucederam Bonifácio IX (1389-1404), Inocêncio VII (1404-1406), Gregório XII (1406-1415).

Era uma situação que não se podia manter e, após a recusa de Gregório XII em encontrar-se com Benedito XIII, as discussões conduzidas pela Universidade de Paris concluíram pela deposição de ambos os papas por um Concílio. Assim, no Concílio de Pisa em 1409, foram declarados depostos os papas de Roma e de Avinhão. No seu lugar foi eleito um cardeal grego que tomou o nome de Alexandre V. À sua morte, passado apenas um ano, o seu colégio cardinalício elegeu o papa que se designou como João XXIII.


Ficavam assim estabelecidas não duas mas três obediências, que nem as negociações nem as pressões política e religiosa conseguiam desfazer.

Finalmente, por iniciativa do Imperador Segismundo e do “antipapa” João XXIII, foi convocado o Concílio de Constança (1418-1419), com o apoio de Gregório XII (Roma) e a oposição de Benedito XIII (Avinhão). Este Concílio revelou-se um acontecimento único na história da Igreja, porque, na ausência de um papa indiscutível, foi dirigido pelos príncipes cristãos (nomeadamente pelo Imperador) e assim se criou um novo precedente importante, o do poder do Concílio, abrindo caminho à discussão sobre a supremacia do poder papal.

Gregório XII abdicou, João XXIII foi deposto tendo ficado cardeal e Benedito XIII refugiou-se na sua fortaleza aragonesa, recusando abdicar e criando com elementos da sua família uma cúria que nomeou os seus dois sucessores.

Foi eleito e reconhecido por toda a cristandade o cardeal romano Oddone Colonna que tomou o nome de Martinho V (1417-1431).  

                                       

   

Habemus Papam - Eleição de Martinho


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publicado por Alea às 19:38

Bento XVI, bispo de Roma

Terça-feira, 19.02.13

Os cinco primitivos patriarcados

Ecclesias era como se chamavam as primeiras comunidades dos seguidores de Jesus (o termo “cristianismo” só surgiu mais tarde). Eram células à semelhança das comunistas de hoje. A chefia de cada ecclesia era assegurada por um presbítero livremente eleito pela comunidade. O presbítero era assistido por diáconos e subdiáconos, acólitos, leitores e exorcistas (aos quais se confiava a cura dos “possuídos”, dos epilépticos). O presbítero dava conta da sua conduta apenas aos seus fiéis, não existindo qualquer relação hierárquica entre os de cada cidade ou de cada comunidade. Melhor exemplo de democracia não há.

No entanto, a partir do século IV, com a enorme expansão do cristianismo transformado em religião de estado, a multiplicação de ecclesias em cada cidade tornou essencial uma verdadeira organização religiosa. Assim os presbíteros passaram a eleger, para a coordenação das suas acções, um epíscopo (um bispo). Posteriormente, apareceram a aparecer os arcebispos, os metropolitas e os primazes que eram os supervisores dos bispos de uma província. Até que em cinco cidades – Roma, Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria – foi instalado um patriarca. (Constantinopla, inaugurada em 330, só foi sede do Patriarcado do Oriente no séc. V, em 450. No séc. VI, com o seu  milhão de habitantes, era a cidade mais populosa do mundo, seguida, mas a muita distância, de Cartago, Alexandria e  Antioquia.)

Paulo, nas suas cartas, informa que o movimento de Jesus era dirigido por três “pilares”: Simão-Pedro, João e Tiago “irmão do Senhor”, ressaltando claramente que este último, que exercia o seu magistério em Jerusalém, constituía a autoridade suprema. Apenas no século V é que começou a teoria de que Pedro, fundador da primeira ecclesia em Roma, tinha primazia e foi nessa altura que apareceu a designação Papa, título também usado por muitos outros bispos.                                        

 

Simão-Pedro e Tiago ("o Justo", irmão do Senhor)

O papa de Roma era apenas o bispo de Roma, eleito, como todos os outros, pelo clero e pelo povo da cidade e tinha a mesma importância e os mesmos atributos que os das outras quatro sedes patriarcais. Só no Concílio de Calcedónia de 381 o bispo de Roma foi reconhecido, com muitas dificuldades e divergências, primus inter pares. No séc. VI, a supremacia, que ele já de facto exercia, foi consagrada com o título de Pontífice ou seja chefe da Igreja.

Brasão de Bento XVI

Neste brazão destacam-se três elementos: a cabeça coroada de um negro, uma concha e um urso que carrega um fardo atado, formando o cordame uma cruz de St. André.

Um mouro figura nas bandeiras da Córsega e da Sardenha, simbolizando em ambas a victória daqueles povos sobre os sarracenos (século XIII).

A concha tem um triplo significado para os cristãos: a lenda de S. Agostinho relativa ao menino que pretendia encher com ela todo o mar numa cova feita na areia (inútil tentativa de fazer entrar a infinidade de Deus na limitada mente humana), é o símbolo do peregrino e é o utensílio utilizado no baptismo cristão.

O urso - que consta nas armas da cidade de Freising cujo patrono é S. Corbínio (séc. VIII) o qual tem uma história que explica a figura do urso - identifica o arcebispo de Freising-Munich, Joseph Aloisius Ratzinger, tal como o leão de Veneza identifica o papa João-Paulo I que daquela cidade foi arcebispo.


O urso foi utilizado pela Igreja como símbolo da victória do cristianismo sobre o paganismo podendo também, nas armas de Bento XVI, ser interpretado numa leitura mais livre como estando a carregar o peso da Igreja (S. André era irmão de Pedro, segundo o Novo Testamento).  

Libertação, infinidade de Deus, jornada de devoção e purificação, fardo do sucessor de Pedro. 

 



 


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publicado por Alea às 18:17