Nuvem do acaso
Quase nada de um pouco de tudo.
O Coronavirus e o 25 de Abril.
O exemplo vem de cima, ou de baixo, depende.
Se o exemplo não for seguido pelos de baixo, estes levam na orelhas; se não for seguido pelos de cima os de baixo são umas bestas e como tais não podem dar exemplos. Acontece que na nossa actual situação é precisamente o contrário: quem devia levar nas orelhas são as bestas de cima e os de baixo têm dado exemplos que deviam envergonhar os de cima.
Vejamos: Dada a naturesa perigosíssima deste coronavirus, os contactos pessoais são de evitar mas o nosso Primeiro (como na tropa, no norte de Moçambique, eu tratava diariamente o Primeiro Sargento da minha Companhia de Engenharia) aperta mãos e dá beijos aos seus colaboradores. Depois, rindo, desinfecta as mãos (e a boca?) com gel para registo das TVs.
O Primeiro do nosso Primeiro, ignorou nos primeiros tempos a proibição de “selfies-beijocas”, depois imitou o Papa e, no âmbito do seu ridículo auto isolamento (próprio de uma persongem hipocondríaca) falou para os jornalistas da sua varanda em Cascais.
Para enfeitar o ramalhete afirmou, em discurso solene, que o sucesso (?) se devia ao milagre de Portugal. Valha-lhe Fátima.
Mas o pior aparece agora: as comemorações do 25 de Abril. O Governo proibiu eventos públicos em recintos fechados com mais de 100 pessoas (vide o jornal “Público” de 15 de Março.) mas uma birra do Sub-Primeiro do Primeiro de seu nome Rodrigues ficou decidido (?) que as comemorações se realizariam na Assembleia da República com um número de presenças com toda a probabilidade superior a 100.
Quem manda pode…Se fossem 100 cidadãos reunidos ao ar livre em Belém, apareceriam de imediato umas carrinhas da PSP para cuidadosa contagem numérica, identificação e, eventualmente, sanção financeira. Mas tratando-se de um evento com a ordem do Rodrigues apoiado pelo nosso Primeiro e pelo primeiro do nosso Primeiro, tudo bem e que a Constituição e a Lei 43/90 de 10 de Agosto que garantem o direito à Petição Pública se lancem às urtigas. Nesta data a Petição tem mais de 109.000 Assinaturas
Quando é que a Petição vai ser discutida e votada? Muito provavelmente depois do dia 25 de Abril ou, então, vai ser cancelada (vou ler a tal Lei)…
PS (26 de Abril): Afinal, em vez de 200 pessoas (130 deputados + 70 "outros", foi o que eu e outros ouvimos) estiveram presentes na AR 46 deputados, cerca de 20 convidados e alguns funcionários. Menos de 100 presenças, portanto. Assim está bem. Porque é que esta questão que tanta polémica levantou não ficou resolvida em devido tempo?
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O Coronavirus e a especulação.
Nunca haverá modo de matar esta coisa que mudou o nosso dia-a-dia e que alterará profundamente a política, a economia, o trabalho, a sociedade. Nunca porque, contrariamente à bactéria, não é um organismo vivo. É um material que se pode destruir mas que necessita de um organismo vivo, como a célula, para se multiplicar; vertiginosamente. Os modos de o destruir e de estabelecer uma imunidade para os “vivos” tem-se revelado muito difícil e controverso.
Quem não se lembra da conferência de imprensa de Boris Johnson na qual anunciou uma política de, chamemos-lhe, “wait and we will win”? Estava rodeado, à esquerda e à direita, pelos responsáveis máximos da saúde do Reino Unido.
Depois, foi o que se viu.
Na base estava uma estratégia técnica e teoricamente defensável: a da “imunidade de grupo”. Que se deixe o virus infectar "brandamente", a curva pandémica será atrasada e evitará a saturação, o desmoronamento, do sistema hospitalar. Que se deixe este novo virus agir como qualquer outro virus da gripe.
Esta abordagem era a dos especialistas em virologia e epideomologia do Reino Unido até que o muitíssimo conceituado Imperial College estimou que 80% da população ficaria infectada e que os mortos atingiriam 250.000. Foi também seguida nos Países Baixos e na Suécia e, sem qualquer invocação científica, foi seguida pelo Brasil e pelos EUA. Mas estes países não são exemplos porque ambos são dirigidos por criaturas como Bolsonaro e Trump e pior que um virus é a mortal metralhadora do poder imbecil e da ignorância.
Simultaneamente, surgiram “fake solutions” como o perigoso remédio aconselhado por Trump a “hidroxicloroquina” que poderá ser no futuro uma solução quando devidamente analisado e testado mas que actualmente na sua forma de “anti malária” se revelou potencialmente mortal. Também o iluminado dirigente da Bielorússia recomendou a vodka, exactamente como um nosso pastor da Beira que recomendou a receita do seu avô: aguardente muito forte porque “mata o bicho”.
Há de tudo: desde artigos de "especialistas" publicados cegamente por jornais de referência até erradas estratégias científicas, bebidas alcoólicas, passando pelo ácido gastrico (que também “mata tudo”) e remédios para a Malária, para o Ébola ou para a Sida. Tudo falso.
Qual a solução? Enquanto não for descoberta uma vacina e um testado remédio, deve evitar-se, logo no estado inicial da epidemia, o contágio através da protecção do corpo exposto, nomeadamente a face e as mãos: máscaras e luvas, higiene e distanciamento social têm um papel crucial que parece resultar. Mas para tal, o Estado deve garantir aqueles artigos sanitários. À data deste escrito são escassos e com preços que escalaram os 1500%! ASAE onde estás?
Uma descoberta parece indicar que os raios UV destroem o virus ("fake"?), o que poderá confirmar o desejo de todos: que no Verão a epidemia abrande muito significativamente. Mas não há bela sem senão, depois virá o Outono e o Inverno…
Preparemo-nos para nos habituar a um novo tipo de convivência, a um novo tipo de trabalho, a usar as tão desconfortáveis máscaras e, sobretudo, a evitar as multidões das praias.
Mais vale só do que perseguido pelo virus.