Nuvem do acaso
Quase nada de um pouco de tudo.
O trapalhadas
Assisti, com curiosidade embora com distanciamento, à evolução destas “primárias” para a presidência do PSD.
O PSD não é um partido qualquer, é o partido com o maior número de assentos parlamentares e ganhou as últimas eleições legislativas. Mas, mesmo coligado com o CDS, não obteve uma maioria para governar. A esquerda em geral e o PS em particular, não lhe permitiram ser governo e isso ficou-lhe como uma espinha na garganta. Mas, diga-se em abono da verdade, o que é que o PSD liberal estava à espera depois de ter sistematicamente ostracizado o PS no período em que foi governo?
Pedro Passos Coelho na sua arrogância, com os seus acólitos e a sua autossuficiência fez com que o PSD sofresse as inevitáveis consequências de um resultado eleitoral negativo. O PS, como acontece noutros países europeus, não tendo ganho as eleições conseguiu constituir governo e construir uma maioria parlamentar.
Mas a espinha ficou e, à laia de vingança, toca a ridicularizar essa maioria constitucionalmente legítima com o epíteto de “geringonça” e a criticar feroz e altivamente a nova política do novo governo.
Saíu ao Pedro Passos Coelho o tiro pela culatra: a “geringonça” funcionou e os resultados económicos e sociais ultrapassaram as melhores previsões de lá fora e de cá dentro. Baixou o deficit, a dívida, a taxa de desemprego. Schauble aplaudiu com recurso a vocabulário futebolístico (Portugal tem um CR7 nas finanças) e esqueceu a loirinha Maria Luís. Centeno passou de besta a bestial e tomou posse como presidente do Eurogrupo no passado dia 12.
Depois, o PSD perdeu estrondosamente as eleições autárquicas e o PS venceu-as. Isto foi o resultado do voto popular de apoio a uma nova política, quer se goste ou não. Estes são os factos.
Depois, com a expectável bênção de Marcelo I, o discurso mudou. Em vez de se reconhecer simplesmente a eficácia e justeza da nova política, incluindo a reversão de algumas decisões do anterior governo, sublinhou-se que esses bons resultados se deviam também à “corajosa” (?) e difícil governação de Pedro Passos Coelho e, claro, aos sacrifícios do bom povo. É preciso ter memória muito curta e muita lata.
Mas, adiante. Confrontado com a grande derrota eleitoral, o iluminado líder Pedro Passos Coelho informou não apresentar a sua candidatura a um novo mandato como presidente do partido e, a partir daí, saltaram dois. Primeiro, o Rui “cortante” (dizem), depois um menino, Pedro de seu nome.
Sim, o menino trapalhão Pedro Santana Lopes, o tal que, depois de ameaçar que só andaria por aí, afirmou que nem que os ventos mudassem dez vezes ele se candidataria a presidente fosse do que fosse, do partido ou do governo.
Sim, o mesmo que disse cobras e lagartos do Pedro Passos Coelho e que em 2012, “enojado” teve a ideia de formar um novo partido adversário do PSD.
Sim, o mesmo que há uns anos na sua qualidade Secretário de Estado da Cultura (cultura) teceu loas aos concertos para violino de Chopin desculpando-se em entrevista televisiva desta semana que só tinha tido lições de violoncelo. Patético.
O denominado “menino guerreiro” não passa afinal de um “puto aldrabão”.
E o que fez o outro outro? Rui Rio, ex-presidente da CM do Porto, ex-vice presidente e ex-secretário geral do PSD, embora sendo adulto, achou que era tempo de retorquir ao seu adversário no mesmo tom.
O meu berlinde é maior do que o teu, só fizeste trapalhadas, lealdade é comigo e é coisa que não sabes o que é, e etecetera.
E esta campanha de primárias não passou de isto: mentirolas, meias verdades, acusações infantis com recortes de jornais como prova. António Costa para a direita e para a esquerda. Debate político? Na proximidade do zero.
Quem ganhou com isto tudo? O negociador espertalhão do António Costa! Terá muito menos dificuldade em monopolizar no futuro uma candidatura a primeiro ministro e, se necessário, em negociar com a esquerda extrema uma nova maioria parlamentar.
Disse o Relvas das falsas licenciaturas, preclaro político na reserva e esperança da governação nacional, que o mandato do Rui ou do Pedro não vai durar mais de dois anos. Até às eleições de 2019. Mas se assim for, como será o PSD no futuro? É que não há no horizonte homens de estado sejam eles profissionais liberais, empresários, universitários, técnicos. Hoje e naquele universo apenas o candidato Rui Rio porque, contrariamente ao que existia no passado, apenas há meninos a falar para inglês ouvir, a ler difícil e a fungar umas coisas.
Rui Rio para bem do PSD ganhou mas, para minha surpresa, apenas com mais 10% dos votos.
Há, de facto, muita gente à manjedoura dos lugares partidários, no parlamento, nas direcções do Estado, no partido.
Coitado do menino Pedro que com a derrota ficou sem absolutamente nada, coitados dos que apostaram no cavalinho errado: o “cortante” Rui Rio certamente não os vai esquecer.