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2017 - Um mini balanço

Terça-feira, 26.12.17

Em 2017, os vergonhosos acontecimentos que assolaram este país foram diários, semanais, mensais. Corrupção, nepotismo, mentira, roubo, incompetência são alguns dos carimbos na acção política, financeira, económica, empresarial. Claro que em 2017 nem tudo foi reprovável ou criminoso. Houve outros acontecimentos, uns enormemente trágicos e outros bons.

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A infernal e dupla tragédia dos incêndios vai marcar tragicamente e durante muito tempo terras e gentes.

Como foi possível esta enorme catástrofe, misto de condições atmosféricas anormais e de impreparação no limite da incompetência de organismos e autoridades que têm como obrigação primeira a segurança do povo e dos seus bens? Houve inquéritos, peritagens e pareceres diversos que deixaram muitas dúvidas e desconfianças.

Os bombeiros voluntários foram de uma dedicação inexcedível e merecem a gratidão de todos.

Depois, o bom, o muito bom. A situação da economia e das finanças que, graças ao novo governo, deu uma volta de 180º, inicialmente muito criticada pelo “reviralho”, com resultados só vistos há mais de quinze anos e nos quais poucos acreditavam. Pelos vistos, a nova política económica da “Geringonça” funcionou para despeito confrangedoramente aparente e pouco louvável da oposição.

Nos “diversos” negativos podem referir-se a banca, os paióis das forças armadas, as tricas parlamentares e futebolísticas, o jantar no Panteão.

Houve ainda outros acontecimentos, também negativos, aos quais só recentemente se deu uma certa relevância. Por exemplo a IPSS “Raríssimas”, na qual um ex-secretário de Estado está alegadamente envolvido; as licenciaturas reivindicadas por responsáveis da protecção civil que se revelaram falsas; elementos da família (pais e irmão) de um ex-secretário de Estado e ex-quadro do BES que não sendo funcionários da empresa receberam 54.000 euros do saco azul daquele grupo através de uma conta offshore; a inacreditável e irresponsável participação financeira (200 milhões de euros) da Misericórdia no Montepio em provável estado de pré-falência.

Dado que a verdade ainda que venha sempre ao de cima leva o seu tempo, julgo que esta procissão ainda vai no adro.

Tudo isto sob o olhar incompetente ou distante das mais variadas governações, supervisões e fiscalizações. Ninguém nos meios político, mediático, desportivo ou empresarial denunciou em devido tempo fosse o que fosse. Nem mesmo o Sr. Presidente, que comenta o tudo e o nada, está a conseguir garantir um são funcionamento das instituições nacionais e parece ignorar que a sociedade sob a sua alta chefia está doente.

A culpa é sempre dos outros, mesmo que estes sejam sempre vizinhos chegados. A culpa morrerá solteira e um “como sempre” não consola.

A estratégia de afectos é confrangedora pela sua total irrelevância social e política. Chegará o tempo em que os “afectos” levantarão sobrolhos e suscitarão sorrisos trocistas. “Afecto”, palavra que deveria ser eleita como a do ano.

Esta sociedade, escandalosamente endogâmica nas esferas do poder político, deveria ser objecto de mais severidade, de mais exigência. Com “afectos” tudo ficará na mesma se não pior. É como na educação das crianças: respeito e uma boa palmada em tempo certo, diálogo ôco e beijinhos é que não.

Então o que se pode fazer e quem é que tem o poder para o fazer? Antigamente, durante séculos havia uma entidade que o tinha: as forças armadas, cuja acção era catalisada e potenciada pelo povo. Hoje, vale rigorosamente zero.

Os portugueses estão de pés e mãos atados. A soberania está entregue a terceiros que de Portugal nada entendem ou pouco sabem. Mas tudo tem o seu preço e escolheu-se, não tão democraticamente como se afirma e se pretende fazer crer, o que hoje se tem e que aflige os que estão atentos e de olhos abertos. A “Europa” há muito que manda em tudo, na moeda, nas finanças, na economia, na agricultura, nas pescas, nas forças armadas. Em tudo, e os portugueses inclinam-se porque, infelizmente, andaram demasiadas vezes de mão estendida.

Isto tem que dar uma volta.

Tem que se aumentar o nível de exigência na família, no trabalho e na escola e alterar radicalmente os métodos de governação da coisa pública. Existe um problema de educação e, também, uma desadequação à realidade do regime político. A actual Constituição já deu o que tinha a dar. O regime parlamentar já não serve e não está, claramente, no ADN do povo português.

Basta analisar os períodos de decadência ou de confusão e os de sucesso, ordem político-social e progresso que Portugal viveu ao longo dos seus 1300 anos de existência. Os primeiros, sob a égide de fracos chefes (“os fracos reis fazem fraca a forte gente”), os segundos sob o primado de uma autoridade central competente e forte. Hoje, o regime parlamentar não passa de um numeroso grupo de personagens, com inúmeras benesses pagas pelo cidadão contribuinte, que periodicamente participam, por vezes sonolentamente, em sessões ordinárias e também em comissões de inquérito das quais nada resulta. É assim que se quer continuar a ir?

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Tudo está nas mãos do povo, que só se revolta quando manipulado pelos sindicatos e que nada pode fazer excepto delegar periodicamente o seu poder a anónimos deputados e autarcas que não estão à altura da governação.

Isto tem que dar uma volta mas, no estado em que as coisas estão, só com uma revolução que ninguém quer, excepto, claro, se for democrática o que não se vê como.

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publicado por Alea às 14:51