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A Presidencialização em Curso - PEC.

Segunda-feira, 23.01.17

Ontem, dia 22, o Sr. Presidente da República concedeu a sua primeira entrevista televisiva após a sua posse que ocorreu há cerca de um ano.

Assisti muito interessado e o que se passou confirmou o que há muito sabia: a falta de educação de alguns jornalistas e a actividade “hiperactiva” e "multidisciplinar" (economia, finanças, saúde, cultura, etc.) de MRS.

Ouvi um rapazola, de seu nome Bernardo Ferrão, convencido das suas faculdades de grande jornalista e ignorante das mais elementares regras da educação. “Senhor” para aqui, “senhor” para ali, foi assim tratado o Presidente da República, interrompido freneticamente pelo Bernardo o qual, sem qualquer pejo, lhe cortava a palavra por tudo e por nada num incontido desejo de manifestar a sua grande sabedoria em todos os campos da política. 

Por seu lado, Marcelo Rebelo de Sousa não surpreendeu, continuou, na sua maneira simpática, a pronunciar-se sobre quase tudo, desde a TSU à situação do Novo Banco, passando pela dívida pública, o crescimento económico e o investimento, o governo e a oposição, o seu dia-a-dia (político e caseiro), as PPP na saúde e a sua eventual recandidatura ao cargo (que vai ocorrer, não tenho quaisquer dúvidas).

Esta particular maneira de ser nunca ocorreu na nossa muito jovem democracia e está no limite do permitido numa constituição que não é “presidencialista” e que, inclusivamente, foi revista em 1982 com redução das competências do Presidente da República.

MRS tem sido mais jogador do que árbitro no “relvado” da política que tem permanentemente adubado com populismo. Não há assunto que ele não comente na hora, nenhum resultado político que ele não tenha previsto ou mesmo patrocinado e não desperdiça nenhuma oportunidade para contactar com a população.

Mas o que é “popularidade”? É “a qualidade de uma pessoa que tem ou busca simpatias do povo ou do público”. Num título de um jornal podia ler-se: “Até um bébé sorriu quando Marcelo lhe apertou as bochechas”. Está tudo dito.

MRS terminou 2016 com uma popularidade de 97%; o Presidente Aníbal chegou apenas a 48%, isto de acordo com as sondagens da Universidade Católica. Está ao nível do futebol e das telenovelas que infelizmente monopolizam até à náusea os programas da TV.

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Historicamente, a popularidade está intimamente associada à personalização do poder. Lembrem-se os casos de D.Pedro I “o Cru” cuja raiva e justiça eram inauditamente cruéis mas que bailava com o povo; de D. João I “o de Boa Memória” que, após ter jurado fidelidade, roubou o trono a legítimo pretendente por ter o apoio em cortes do povo; do grande rei D.João II que no seu combate ao poder da nobreza julgou e matou grandes do reino, a maioria seus familiares e um pela sua própria mão, mas que, talvez por isso, granjeou a admiração do povo e de Isabel a Católica e mereceu o cognome de “Príncipe Perfeito”; de D. Sebastião “o Desejado”, menino loiro e louco que, contra todos os avisados conselhos, levou Portugal à ruína e cuja comprovada morte o povo rejeitou e durante dezenas de anos desejou o regresso; de D. Pedro V o rei sobredotado, “o Esperançoso” ou “o Muito Amado”, que reconciliou o povo com a nobreza, que se preocupou particularmente com questões socias, que percorreu os hospitais nos surtos de cólera e de febre amarela que então ocorreram e cuja prematura morte o povo chorou.

MRS conhece essa predilecção do povo, transpondo para a política os seus dotes de comentador, cultiva-a com exagero e, sobretudo, com imprudência porque não é só la donna (que) è mobile  também as condições políticas o são, sobretudo em Portugal nos tempos que correm.

A continuar assim MRS arrisca-se a acabar a falar sozinho como Vasco Pulido Valente vaticinou.

 

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publicado por Alea às 19:21

Ignorância e Confusiones

Sábado, 14.01.17

A ignorância é mais mortífera do que uma metralhadora.

A ignorância de alguns jornalistas os quais, infelizmente e graças aos meios de informação (dos quais se destacam os jornais e a televisão) são muitas vezes promotores de desinformação e de ignorância, estende-se à confusão de alguns professores catedráticos.

Quando era professor universitário lembrava aos meus alunos que eu “fazia” engenharia de estruturas mas que eventualmente me poderia ser aplicado o adágio “Quem sabe faz, quem não sabe ensina”.

Vem isto a propósito de dois trechos de artigos publicados nos jornais “Público” e “Expresso”.

Sobre eles li cópia das cartas enviadas pela minha irmã Maria Helena aos directores daquelas duas publicações e por achar que os seus conteúdos merecem uma maior divulgação resolvi reproduzi-los aqui.

"Um artigo de David Andrade no “Público” tinha o título "A meteorologia provocou estragos no Dakar 2017 mas não apagou o brilho de J-Rod". Ora acontece que a meteorologia, como ciência que estuda o clima, está inocente de quaisquer estragos no Dakar. O clima pode ser o culpado mas a meteorologia não."

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"O colunista do Expresso João Duque inicia a sua coluna "Confusion de Confusiones" com a seguinte frase:

"Tudo indicava, afiançavam-me, que o ano de 2017 seria um ano inesquecível: ano a terminar em sete, esse número cabalístico, e com resto zero na prova dos nove!"."

Acontece que, matematicamente, a prova dos noves consiste em obter o resto da divisão de um número escrito na base decimal por nove. Demonstra-se que são iguais os restos das divisões de um número natural por 9 e da soma dos seus algarismos também por nove. Na prática e como qualquer aluno da 4ª classe do meu tempo sabe, este resto pode obter-se pela subtracção por 9 da soma dos algarismos que compõem esse número (“noves fora”…).

Assim, uma aplicação da prova dos nove ao algarismo “cabalístico” 7 é uma aberração matemática que conduziria ao número irracional 7/9 e nunca a um número inteiro e muito menos ao algarismo zero. Se aplicada ao número 2017 conduziria não a zero mas a um.

João Duque é Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão.

Ó Sr. Professor, francamente!

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MRS o Catequista

Segunda-feira, 02.01.17

Do grego “Kateknistés”: o que ensina de viva voz.

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“O segundo vinho é sempre o melhor” disse o Presidente da República a propósito da administração da CGD recentemente indigitada.

Já Cristo se deparou com a mesma questão nas bodas de Caná quando foi servida a nova remessa de vinho. O noivo percebeu que o último vinho era melhor que o primeiro e admirou-se porque, primeiro, é servido o melhor vinho após os convidados terem bebido bastante e só depois é servido o vinho menos bom. Mas o “segundo vinho”, o pior, era o resultado da transformação por Jesus da água em vinho.

Vale o que vale mas, embora os contribuintes já tenham tragado muito do que é mau do copo de Coelho, não devem beber as palavras de mais iluminados sobretudo quando são adjectivadas como “melhores”.

Na sua visita à Autoeuropa declarou “Olhe eu não sei porquê tenho um feeling. O Presidente da República tem por vezes feelings: as exportações em Novembro vão claramente crescer”. “Feelings” é o que não falta ao Presidente da República.É uma pena. 

Depois (“logo a seguir”?), na sua página da Presidência, Marcelo lamentou a morte do cantor inglês George Michael e recordou os desaparecimentos de David Bowie e de Prince. Vocação falhada de cantor amador? Nem o Pedro Passos Coelho (ele sim com aparentes dotes e antecedentes com as “Doces”) se lembrou de fazer.

Depois (ou terá sido antes?) promoveu uma reunião entre o actor Luis Miguel Cintra, fundador há cerca de 40 anos do teatro “A Cornucópia” – teatro onde hoje todos dizem ter ido mas que estava sempre vazio –, e o Ministro da Cultura porque segundo ele “Vale a pena ver se é possível um projecto que não seja o do encerramento”. Segundo o semanário Expresso “O Presidente da República alterou a agenda desta tarde de sábado e até fez com que o ministro da Cultura não fosse a Castelo Branco para ir também ao teatro discutir possíveis soluções sobre o tema. Marcelo sugeriu um regime de excepção”. Valha-nos Deus, uma verdadeira intrusão em competências exclusivas do Governo!

Que mais se seguirá?

Um conselho de vacinação contra a gripe foi o que se seguiu. O homem também sabe muito de medicina provavelmente porque filho de peixe sabe nadar.

Assim vai Marcelo a falar de tudo e de nada, a meter a colherada onde não deve. Como é possível um homem tão inteligente e culto meter-se, a torto e a direito, em tudo?! Talvez vaidade e resquícios da sua intensa actividade de comentador televisivo. Quando é que ele vai recomeçar a dar notas? Seria, para mim, uma delícia.

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publicado por Alea às 16:09