Nuvem do acaso
Quase nada de um pouco de tudo.
Marcelo no teatro da presidência
Um comentador político pode ser Presidente da República? Pode, tal como um sindicalista ou um actor de cinema o pode.
Um Presidente da República pode continuar a ser, no exercício das suas funções, um comentador político? Poder pode mas não deve, tal como não devem exercer as suas anteriores habilitações um sindicalista ou um actor cinematográfico. Não são exemplos imaginários: houve um Lula e um Reagan. Nem um nem outro misturaram o que competia às suas novas funções com o que lhes era familiar ou habitual na sua vida profissional.
Vem isto a propósito das recentes atitudes de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS).
É desanimador, para quem admira as suas inúmeras qualidades e nele depositou grandes esperanças depois do mandato catastrófico do Sr. Aníbal Silva, vê-lo em confrangedoras e folclóricas danças moçambicanas ou palrando por tudo e por nada como se comentandor político continuasse a ser.
O homem tem que ter uma compostura mais condizente com a do mais alto magistrado da Nação e falar muito menos a propósito de tudo e de nada. O melhor seria calar-se.
Julgo, infelizmente, que estão a ocorrer preocupantes afloramentos do modo de ser que sempre o caracterizaram: frenética exuberância, jogo de cintura no disse-mas-não-disse, “catavento” na política e na sociedade.
Começou o seu mandato com um risonho piscar de olhos à esquerda mas hoje advinha-se o deslisar para uma palmada à mesma.
Manteve os seus tiques políticos e não há assunto em que não doutamente se prenuncie estendendo a sua sábia verborreia dos assuntos internos à esfera africana e europeia (por exemplo, comentando as personalidades dos chefes de governo e da oposição, a natureza das contas públicas, a polémica distinção entre o ensino público e o privado ou, por outro lado, aconselhando as forças políticas em confronto em Moçambique ou comentando as presumíveis intenções do Eurogrupo quanto à eventual aplicação de sanções a Portugal e à Espanha).
É caso para exclamar: Ó homem, contenha-se e não danse. Ó homem cale-se!
Tal como o Sr. Passos Coelho ainda não percebeu que já não é Primeiro-Ministro, MRS ainda não conseguiu libertar-se da sua condição de comentador político estando deslumbrado com a sua nova posição política e, eventualmente, com a hipótese de passar à História como o “Presidente do Povo” tal como Sidónio Pais foi o “Presidente Rei”, ele também um ilustre professor universitário, íntegro, muito inteligente e trabalhador.
No jornal Público do passado dia 28 pode ler-se: “O núcleo duro de seis conselheiros de Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou prudência ao Presidente da República em reunião na passada semana no Palácio de Belém (...) este círculo de influência presidencial recomendou a Marcelo moderação nas suas palavras e atitudes (...) Corrigir excessos, evitar falar sobre tudo e fugir de uma amálgama de mensagens (...) sobre os mais variados temas da actualidade política.”
Ora aí está, a realidade é mesmo essa.
Lá vai ele à Alemanha pedir o apoio da chanceler Merckl para os problemas que Portugal tem com o seu sistema financeiro, nomeadamente com os do Novo Banco e os da CGD. Não esqueceu, como nenhum português deveria ter esquecido, as “marionetes” Passos Coelho e Paulo Portas. Veremos o que consegue e como o comunica.
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Túnel do Marão, o Coelho e os coelhinhos.
Era uma vez um “lobo mau” que diariamente visitava os coelhinhos e lhes perguntava pelo pai. “Não está? Olha que pena porque se estivesse dava-lhe um pontapé no rabo”. Os coelhinhos ficavam muito incomodados e um dia quando o pai apareceu disseram-lhe “Olha pai, um lobo passa por aqui todos os dias, pergunta por ti e depois diz que se cá estivesses dava-te um pontapé no rabo”. O Coelho ficou furioso e ficou à coca.
Quando o “lobo mau” apareceu e interrogou novamente os coelhinhos, o Coelho saiu de casa em perseguição do lobo. Este, temeroso, fugiu (esta de um lobo fugir frente a um coelho é pouco credível mas faz parte da história) e escondeu-se dentro de um tronco oco que estava no caminho. O Coelho despeitado, raivoso e inconsciente dos seus “inchaços de soberba” foi atrás e ficou entalado com o rabo de fora (como o gato da outra história).
O lobo apareceu por trás e exclamou “Eu até nem gosto fazer isto mas prometi às crianças” e pimba, pontapé no rabo.
Ora bem, na vida dos humanos também há disto.
Há coelhos estúpidos que, convencidos que as suas mentiras metem medo pela sua gravidade, acabarão vergonhosamente com o rabo entre as pernas, coelhinhos que o seguem respeitosa e religiosamente e, infelizmente, muito poucos lobos dispostos a dar um valente pontapé no rabo de coelhos inchados de importância. Rabo aqui em sentido figurado, claro, porque todos têm rabos e, na política, pouca vergonha com o que com ele fazem que é o caso dos mentirosos ex-primeiro ministros “Engenheiro Sócrates”e “Doutor Coelho”.
O futuro trará certamente mais “novidades”.
Vem isto a propósito das declarações do Sr. Coelho sobre a inauguração do Túnel do Marão. Fê-las com aquele ar autosuficiente, que incluiu o esclarecimento que hoje já não é primeiro ministro. Espantoso.
A adicionar às inúmeras mentiras do passado, desde as promessas préeleitorais de ontem e de anteontem (como, por exemplo, o não aumento de impostos ou a devolução da sobretaxa do IRS) teve o desplante de afirmar o seguinte (jornal “O Publico” de 7 de Maio de 2016):
"Creio que o túnel do Marão é uma obra bastante consensual em Portugal. Não vale a pena reclamar louros sobre ela. Mesmo que eu fosse primeiro-ministro, coisa que hoje não sou, e a obra fosse inaugurada amanhã, eu não estaria lá", referiu Pedro Passos Coelho. O ex-primeiro-ministro, que falava no Porto à margem da apresentação das publicações "Europa - Pela Nossa Terra" disse que "nunca" esteve numa obra de inauguração enquanto liderou o Governo. "Nem de estradas, nem de autoestradas, nem de pontes, nem de coisa nenhuma. Estaria lá com certeza o senhor ministro da Economia em representação do Governo".
(O jornalista do “Público” esclareceu e provou que tal não corresponde à realidade):
“Alguns exemplos: em Agosto do ano passado, a pouco mais de um mês das eleições legislativas, o então primeiro-ministro inaugurou a nova Ponte da Foz do Rio Dão, uma obra que custou mais de 10 milhões de euros e fica integrada no Itinerário Principal (IP3), entre Mortágua e Santa Comba Dão.
Um mês antes, compareceu na inauguração dos Edifícios Centrais do Parque Tecnológico de Óbidos e em Abril, inaugurou um bloco de rega do Alqueva acompanhado da então ministra da Agricultura, Assunção Cristas.
Em Março de 2014, inaugurou a sede da Polícia Judiciária em Lisboa, e em Outubro do mesmo ano o novo quartel de Estremoz da GNR.
No ano anterior, ainda durante a troika, discursou na inauguração das novas instalações da Porto Business School, em Matosinhos, e a lista não acaba aqui. Já em Fevereiro deste ano, enquanto presidente do PSD, Passos Coelho foi ao Lordelo (Paredes) inaugurar uma escola que estava em funcionamento há três anos.” (fim de citação do artigo do Público).
Há muitos que ainda não perceberam que Sócrates e Coelho são duas faces (por isso diferentes) de uma mesma moeda: a da mentira e aldrabice.