Nuvem do acaso
Quase nada de um pouco de tudo.
Uma tragédia na emigração
Não quero comentar em pormenor a tragédia ocorrida no passado dia 25 de Março em que morreram 12 emigrantes portugueses num desastre rodoviário em França.
Para além de não poder nem querer antecipar as conclusões da comissão de inquérito nomeada pelas autoridades francesas, o comentário teria muito de “políticamente incorrecto” e estaria ao arrepio das convicçõesde hoje de muitos dos meus concidadãos, nas quais o fado se mistura, à ignorância dos factos e ao azar.
No entanto, os órgãos de comunicação social começam a “corrigir o tiro” informando que o pequeno autocarro estava com o dobro da sua lotação, que uma imprudente ultrapassagem está ao mesmo nível de probabilidade da de uma desatenção por cansaço, que o jovem condutor de 19 anos (já constituído arguido) - com carta há apenas um ano e sem maturidade e experiência - poderia não estar habilitado para conduzir aquele tipo de veículo (o qual tinha um atrelado o que muito perturba a condução), que o veículo fazia parte de um “combóio” de mais quatro podendo ter havido imprudente pressa em os apanhar da que resultou eventualmente excesso de velocidade numa das estradas mais mortíferas de França.
Estou, no entanto, certo que houve irresponsabilidade e ilegalidade.
Uma tragédia com uma dimensão nunca atingida no passado, uma Páscoa triste para a comunidade emigrante portuguesa, para os familiares e amigos das vítimas e para todos nós.
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De novo a Besta
“E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta (...). Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? (...) e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação.(...) Se alguém tem ouvidos, ouça.(...) Se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto.(...).
Apocalipse 13:1-18.
Eram 8 da manhã em Bruxelas. A Besta atacou o metropolitano cheio de trabalhadores a caminho do emprego, crianças e adolescentes dirigindo-se a escolas e faculdades. Cidadãos cujo crime é o de serem apenas isso.
A Besta também atacou na mesma hora o aeroporto na zona de ”check in”, hora em que habitualmente se prepara a partida para os vôos transatlânticos.
"Não ataquem grandes edifícios como o World Trade Center, instalações militares como o Pentágono. Isso já não interessa: ataquem gente, espalhem o terror". Foi esta a orientação dada por um agente da Besta.
Hoje, é patente a impotência, a desorientação, o medo. A Besta ganhou outra batalha. Ganhará a guerra? Que fazer? Um enorme muro e transformar a Europa numa frágil fortaleza? Expulsar os migrantes suspeitos de coniventes da Besta misturando o trigo com o joio?
“Matai-os todos que depois Ele saberá distinguir os bons dos maus” foram as ordens de Simon de Beaufort na cruzada papal contra os Cátaros no sul da França na segunda década do século XIII. Matar, expulsar todos (por avião, barco ou combóio) como fizeram no passado os nazis? É claro que não como em 1220 ou em 1940 mas não esquecer o passado porque a Besta está, de facto e dizem que em resultado do “pecado original”, em maior ou menor grau dentro de nós.
Para já, avança-se com a construção de muros fronteiriços e com políticas incompetentes porque insuficientes para estancar a corrente de refugiados. A Europa não sabe ou não quer lidar com o problema. Entretanto, são milhões a migrar, milhares no caminho da fuga, centenas a morrer no Mediterrâneo, cidades demolidas, património mundial destruído, pacíficos cidadãos mortos em Londres, Paris, Madrid, Bruxelas. Será possível abraçar quem desconfiamos?
Resolver a questão da Síria? Sim, certamente mas não só. Há tantas sírias em potência! A Líbia, a Etiópia, o Afeganistão, e, e, e...
O problema é essencialmente político. As declarações de solidariedade dos dirigentes políticos são sempre as mesmas e inconsequentes. Para quando a criação de um organismo integrado de segurança europeu?
Quem compra petróleo à Besta? Quem vende explosivos e armas à Besta? Quem, quem? As organizações de segurança europeias ainda não sabem? Já era tempo. Quem organiza a Besta?
A Europol estima que haja 3.000 a 5.000 europeus com ligações ao extremismo islâmico...
Porque não há (ainda até hoje) estreita cooperação entre as agências de informação ocidentais? (só hoje tomei conhecimento da importância do papel das autoridades marroquinas no combate ao terrorismo).
"Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Seu número é seiscentos e sessenta e seis”, é o que diz uma das traduções do versículo 18.
E a partir de então, os conhecedores das Escrituras passaram a associar o número "666" à Besta e a tudo o que está relacionado com o maligno, porque por hermeneutica (atribuição de um valor numérico a cada palavra) “616” (número do homem Calígula) é, segundo os especialistas, o número da Besta (e não “666”, mais fácil de reter). Porque não o número 4, número da Morte para a hermeneutica asiática?
Se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto.(...).
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A Ética e a loirinha
A ética na actividade humana, desde a “verdade desportiva” à “promessa política” é frequentemente associada à corrupção.
Para que haja entendimento, o que se entende por ética em qualquer actividade humana?
É difícil nos tempos de hoje definir sem controvérsia o que caracteriza e é próprio da ética mas poder-se-á dizer que “Ética” é um conjunto de princípios morais que governam o correcto comportamento de um indivíduo ou de uma organização ou, mais concretamente, “é um conjunto de valores que definem o quero, o posso e o devo. Porque nem tudo o que eu quero eu posso, nem tudo o que eu posso eu devo e nem tudo o que eu devo eu quero”.
A ética reconhece-se quando é vista e ou se a tem ou não se a tem e a reputação ou o bom-nome dependem dela.
Vem isto a propósito de uma recente contratação de um político no activo e ex-governante que é, na minha opinião, a negação da ética política, tal como a falta de “fair play” é a negação da ética desportiva .
Alguns comentadores políticos equipararam o comportamento do político em causa não como uma infracção à ética mas como uma mera falta de bom-senso. É caso para dizer que alguns argumentos políticos são mais retorcidos do que a casca de um caracol.
Mas, para além do bom-senso, o comportamento ético é por vezes aferido em função da observância da Lei: tal comportamento é conforme à Lei? Então nada há a apontar no domínio da ética. Não é assim, e a utilização daquela dualidade é em si mesmo a tradução de uma cumplicidade com quem tem um comportamento éticamente reprovável.
Certamente que transparência nas decisões e honestidade nos comportamentos constam numa definição de ética e nada melhor para um entendimento parcial da questão do que elencar um pequeno e resumido conjunto do que é ou do que deveria ser.
“Ser” ético é:
- Ser honesto, imparcial e servir fielmente o bem-público;
- Ser exemplo de competência e de prestígio;
- Ter um comportamento honrado, íntegro e digno;
- Abster-se de qualquer declaração, crítica ou argumento inspirados por interesses de terceiros;
- Evitar qualquer tipo de conflito de interesses recusando participar em circunstâncias que possam influenciar um seu juízo ou a idoneidade de um seu comportamento;
- Recusar qualquer compensação por mais do que uma das partes envolvidas numa mesma questão, nomeadamente quando nessas questões se têm ou se tiveram funções de responsabilidade;
- Não utilizar informação confidencial obtida na sua actividade profissional com o objectivo de obter lucro ou promoção pessoal , nomeadamente em detrimento do interesse público.
Os políticos deveriam ser exemplos de comportamento ético em todas as áreas da sua actividade. Mas, em geral, não o são (como é comprovado pelos processos jurídicos a que estão ou estiveram sujeitos políticos, desde autarcas a ministros) e, tal como em certas associações profissionais, os que desejam exercer cargos públicos deveriam ser submetidos a um exame de ética para efeitos de desempenho de funções. Não me admiraria que, mau grado o voto do cidadão eleitor, houvesse um considerável número de reprovações.
Ref. “A Ética hoje”, blog de 9/11/2015, "A loirinha do Schauble", blog de 26/02/2015.