Nuvem do acaso
Quase nada de um pouco de tudo.
Nenikamen
Nenikamen, “vencemos” foram, diz a lenda, as últimas palavras de Philipedes ao morrer aos pés da Acrópole anunciando a victória dos gregos sobre os persas após uma corrida de 35km (Setembro, 490 a.C.).
As cidades gregas da Ásia Menor rejeitavam a tutela persa de Darius “Rei dos reis” e Atenas mobilizou-se para as auxiliar.
Os persas queimam Mileto e deportam os seus habitantes.
Os cidadãos atenienses em grande inferioridade numérica (10.000 contra 20.000 persas - o número de 100.000 é avançado por alguns historiadores) porque as outras cidades-estado desertaram, derrotam, na planície de Maratona a 35 km de Atenas e graças ao génio militar de Miltíades, os persas que são obrigados a bater em retirada e a recolher aos seus navios.
Isto passa-se há 2.500 anos e, num jogo “faz-de-conta”, suscita perplexidades.
E se hoje se substituísse “persas” (a potência da altura) por “troika” (ou U.E.), “Mileto” por “Grécia”, “deportação” por “ruína”? Mas a analogia fica, infelizmente, por aqui, porque não haverá a exclamação “nenikamen”.
A finança, os especuladores internacionais (percursores e agentes, dizem, de uma 3ª guerra mundial de perfil financeiro, tecnológico e informático) são hoje muito mais poderosos do que a arma nuclear do século XX b.C. ou as flechas ou as lanças do século V a.C.
Assiste-se hoje a uma deserção, não de cidades-estado inimigas de Atenas, mas de nações europeias subservientes da finança, de interesses pouco claros, dos bancos alemães e franceses.
O ideal europeu da solidariedade rompeu-se para sempre e a mentira e a hipocrisia imperam.
Não se contesta a esmagadora dívida grega de mais de 300 mil milhões de euros, os perdões de dívida, a total ineficácia da máquina fiscal grega, o “laisser faire laisser passer” grego, o “viver à sombra de empréstimos” e etc. Não, não se deveria acenar o indiscutível mas sim discutir-se o que são as firmes “janelas de oportunidade” apresentadas pelo governo grego democraticamente eleito. Não é admissível contestar o que o povo grego aprovou como disposições constitucionais o que, como português, não gostaria que estrangeiros fizessem para cá.
Indiscutível? A especulação e a usura financeira internacional.
Indiscutível? A austeridade cega, esmagadora e humilhante a que esteve sujeito o povo grego lançando centenas de milhares de cidadãos para o desemprego, cortando pensões para além do razoável, semeando a pobreza.
Indiscutível? A impossibilidade de pagamento daquela monstruosa dívida. Terá que ser “reestruturada”, tal como a portuguesa.
Indiscutível? A inflexível prepotência de 18 iluminados coveiros do euro em “águas desconhecidas” e lançando um povo para a catástrofe.
Indiscutível? A vergonhosa posição de subserviência sentada (ou levantada “eu, sôtor, eu”) do “bom aluno” do governo de Portugal.
Indiscutível? Que Portugal estará a seguir mau grado os seus “cofres cheios” (“cheios” de quê? de dívida nas mãos de instituições financeiras).
Indiscutível? A mentira eleitoral de hoje para que o amanhã fique como lá fora se quer que fique. Vergonha.
Faz falta um Miltíades para nossa defesa das pérsias de hoje.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Passos Rabbit
Mito: crença claramente errada; relato próprio da fábula.
Mito urbano: forma moderna de folclore; história verdadeira ou não, consoante o contador.
Consoante o contador...É preciso ter lata ó Passos Rabbit!
Lewis Carroll descreve a personalidade do “White Rabbit” do País das Maravilhas como sendo uma antítese da jovem, corajosa e frontal Alice.
“Ó meu Deus, Ó meu Deus, vou chegar atrasado outra vez. Ó meu Deus, Ó meu Deus, não tenho tempo nem sequer para dizer olá, Ó meu Deus, Ó meu Deus…”. No final, confessa à vaca Clarabela “Não estou de facto atrasado, não tenho nenhum encontro, sou uma fraude”. Para além de convencido da sua pessoa, o “White Rabbit” é pomposo e prepotente para com os seus inferiores e obsequioso e subserviente para com as altezas.
O coelho de cá, o “Passos Rabbit”, é o que aldraba e desgoverna este desgraçado “País da Marabilhas".
O coelho de cá invocou os “mitos urbanos” para negar sorridentemente que alguma vez tenha incentivado a emigração de mais de 300.000 cidadãos (360.000 entre 2010 e 2013 de acordo com o “Emigração Portuguesa, Relatório Estatístico de 2014” do Observatório da Emigração, sendo de assinalar que as “saídas anuais” cresceram acentuadamente a partir de 2010 com 70.000 saídas, atingindo o valor de 110.000 em 2013 - fig. 6 da pág. 36 - ). A maior sangria que Portugal sofreu desde os anos sessenta do século passado.
Negou e desafiou que o provassem, o que no dia seguinte foi imediatamente feito pelos media, por exemplo:
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=27&did=189998
http://www.tvi24.iol.pt/politica/passos-coelho/passos-ideia-de-que-incentivei-os-jovens-a-emigrar-e-um-mito-urbano
http://www.publico.pt/politica/noticia/este-mito-urbano-nao-e-como-os-outros-existiu-1698380
Estranhamente (ou não) a mentira teve “mil” vezes menos cobertura mediática do que a contratação de JJ para treinador do Sporting.
Para mais informação consultar a “net”, nomeadamente:
http://www.leituras.eu/este-mito-urbano-nao-e-como-os-outros-existiu/
http://aventar.eu/2015/06/10/apanhado-na-mentira-passos-coelho-introduz-uma-diversao/
Acho que existe alguma coincidência de caracter entre os dois coelhos, o de “White Rabbit” e o de “Passos Rabbit”.
O coelho de cá usa e abusa para consumo interno de um catedrático “o que significa portanto” (é muito culto e explica tudo muito bem) mas lá fora é humilde e servil recebendo ordens que cá dentro decreta, embora em campanha eleitoral tenha firme e repetidamente negado essa sua intenção (Ó meu Deus, Ó meus Deus, são tudo “mitos urbanos”). Como justificação, invoca o pacto assinado com a Troika esquecendo-se que foi muito para além do que nele se impunha. Teve o despudor de afirmar:
“O PSD chumbou o PEC4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte do rendimento”.
Depois, enquanto governo, foi o que se viu: o maior aumento de impostos da história recente e o corte brutal das pensões.
É preciso não ter vergonha na cara.
Com ar próprio de um barítono de opereta, de óculos intelectuais e sorriso de boca apertada tem repetidamente manifestado uma personalidade mentirosa (vejam-se as suas promessas eleitorais e o seu muito recente esquecimento de declarações feitas sobre a emigração).
O coelho de cá, como o da história, é uma fraude e se fosse personagem de contos (o que infelizmente não é) poderia exclamar:
“Ó meu Deus, Ó meu Deus, não perguntem mais nada, mitos urbanos, mitos urbanos, tenho um encontro muito importante em Bruxelas e não quero chegar atrasado”.
Depois de um Sócrates sai-nos este outro Pinóquio. Estamos feitos. Ó Bunny_Man empresta lá o teu martelo.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Só à estalada
O Decreto-Lei nº 4/2015 relativo à revisão do Código de Procedimento Administrativo foi aprovado pelo Governo em Conselho de Ministros de 9 de Outubro de 2014, promulgado em 2 de Janeiro de 2015, referendado em 6 de Janeiro de 2015 e mandado publicar em Diário da República (1ª Série – nº 4, de 7 de Janeiro de 2015) pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.
https://dre.pt/application/file/66047121
Nos últimos parágrafos do ponto 7 do Preâmbulo do referido Decreto-Lei pode ler-se:
“(…)Merece realce a previsão da possibilidade da celebração de acordos endoprocedimentais (artigo 57.º). Através destes, os sujeitos da relação jurídica procedimental podem convencionar termos do procedimento que caibam no âmbito da discricionariedade procedimental ou o próprio conteúdo da decisão a tomar a final, dentro dos limites em que esta possibilidade é legalmente admitida.No n.º 2 do artigo 57.º, além de se deixar absolutamente claro o caráter jurídico dos vínculos resultantes da contratação de acordos endoprocedimentais, configura -se uma possível projeção participativa procedimental da contradição de pretensões de particulares nas relações jurídico-administrativas multipolares ou poligonais. (…).”.
Lindo.
Este texto psicadélica e exotericamente imbecil, extracto de um total com 6 (seis) páginas (50 a 55), faz parte do Preâmbulo do referido Decreto-Lei que tem nove artigos que ocupam 1 (uma) página (56), excluindo, como é evidente, o propriamente dito CPA - Anexo do artigo 2º - o qual tem 31 páginas.
Como se pode verificar no seu final, o decreto obteve as assinaturas dos seguintes membros do Governo presentes à mencionada reunião do Conselho de Ministros: Pedro Passos Coelho, Maria Luís C. M. D. de Albuquerque, Paula Maria Von Hafe Teixeira da Cruz, Pedro Alexandre V. A. Lomba, António M. Pires de Lima, Jorge Manuel l. Moreira da Silva.
Quem é que redigiu ou reviu o texto preambular? Quem? Muito provavelmente a Paulinha (ou, eventualmente e no que respeita à redacção, a luminária bem paga de um seu assessor) dado que os outros ilustres membros do Conselho nada têm a ver com o pelouro da Justiça.
Ó Paula Maria, francamente, então a Sr.ª Dr.ª advogada ministra dá aos seus colegas de governo aquela coisa para aprovar, assinar e promulgar?! É certo que é apenas licenciada na Universidadse Livre que o Ministério da Educação e Cultura deixou de reconhecer em 1986 pela degradação do ensino que na mesma se vinha administrando (Despacho 94/SEES/86 publicado no DR, 2ª de 26-9-86) e que evitou a Faculdade de Direito de Lisboa porque lhe faltavam, como parece evidente na sua prática profissional e governativa, unhas para a guitarra.
Ó Sr. Presidente Silva, então manda publicar esta coisa?!
Mas, claro, é necessário “épater le bourgeois”, dizer, escrever qualquer coisa que impressione o Zé “eleitor-contribuinte”, que o aproxime ainda mais do futebol e o afaste das "endoincompetências" da política de um Coelho, de um Paulinho, de uma Paulinha Maria, eteceteretal.
Depois dos “inconseguimentos” só faltavam os “endoprocedimentos... poligonais”.
Valha-nos Deus.