Nuvem do acaso
Quase nada de um pouco de tudo.
O homem passou-se!
No passado dia 22 de Novembro, numa cerimónia de entrega de prémios de jornalista, o Sr. Cavaco Silva botou discurso.
Eu já o vi a subir um coqueiro e a comer deselegantemente um bolo-rei. Também já o ouvi em diversas ocasiões. É normal. O Sr. Silva (como já foi designado pelo Presidente do Governo Regional da Madeira) é actualmente o Presidente da República Portuguesa e foi durante mais de oito anos Primeiro Ministro de Portugal (XI e XII governos constitucionais). Hoje, critica o que ontem foi feito sob a sua direcção para a desgraça de Portugal. O que não é normal é que no exercício de funções daquela natureza proceda e fale “como não deve ser”.
Quando eu era pequeno, as palmadas e a pimenta na língua eram instrumentos educativos aplicados a miúdos maleducados. Aos “grandes”, não. Eram considerados casos perdidos.
O Sr. Presidente da República não queria ir àquela cerimónia porque sabia que teria de subir ao palco e quebrar o silêncio (disse ele). Ora, subir a palcos foi coisa que sempre ambicionou e quebrar silêncios só é censurável se forem ditas imbecilidades ou quando se exprime a convicção, também ela ignorante, de que o silêncio tem peso. Não, o silêncio tal como o ruído não é objecto da acção da gravidade (peso é o resultado dessa acção).
Admita-se, no entanto que existe um cavaco que descobre o peso do silêncio. Qual a sua unidade? Sendo uma força a sua unidade é o Newton e não a onça, como qualquer um sabe. A onça é uma unidade de medida inglesa de massa que pode ter dois valores diferentes conforme a natureza dos objectos: “avoirdupois” (objectos em geral, 28,349523125 gramas) e “troy” (metais e pedras preciosos e medicamentos, 31,103478 gramas).
O Sr. Cavaco Silva acertou na equivalência da unidade de massa, mas ukékiço tem a ver com a TSU (soletrada ou não)? E que nos interessa a cotação do ouro se ninguém sabe a massa do silêncio e, portanto, a massa do silêncio presidencial?
Se o silêncio tivesse a massa de um elefante, o silêncio de um elefante com 10 toneladas valeria em euros, à cotação de 22 de Novembro de 2012 (atente-se) e de acordo com os dados presidenciais, 10 milhões de gramas x 1730 USD / 31,103478 x 0,7732 = 430 milhões.
Ora, há aí tanta besta que não fala que a informação presidencial é um interessante instrumento para a redução da dívida pública. É pô-los todos a falar. Mesmo que sejam besteiras.
Depois, o senhor declarou que boa parte da população portuguesa acha que ele está a reflectir durante o seu silêncio (foi o que ele disse). Deus queira que ele não reflicta tanto como fez em relação à agricultura, às pescas, à indústria nos tempos em que era Primeiro Ministro.
“O silêncio é de ouro” (silentium est aurum) é parte de um provárbio antigo: “a palavra é prata e o siêncio é ouro”. Neste caso é caso para se dizer que “mais valia estar calado” (superfluo valorem silere), outro provérbio. Mas, é melhor ler um extracto das “reflecções” do venerando Chefe do Estado (é o estado em que ele se encontra):
"Até aqui, boa parte dos portugueses pensava que o Presidente da República estava a meditar, a refletir sobre a próxima visita a Portugal da senhora já bem conhecida de todos, amada por muitos, a que carinhosamente os portugueses chamam de troika, outros estariam a pensar que o Presidente da República estava a refletir sobre se o aumento de impostos era enorme ou gigantesco, outros pensariam que o Presidente da República estava a refletir sobre os novos apoios que a chanceler Merkel podia trazer para Portugal na sua próxima visita ao país e outros poderiam estar a pensar que o Presidente da República estava a refletir sobre o que fazer relativamente às pressões de vinte corporações e mais de cem individualidades para que ele enviasse o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional (...) Outros estariam a pensar que o Presidente estaria a refletir sobre o consenso político que foi possível estabelecer entre as forças políticas do arco da governação sobre a forma de realizar a reforma das funções do Estado, outros podiam estar ainda a pensar que o Presidente estava a refletir sobre se a transmissão televisiva dos jogos de futebol em canal aberto fazia ou não parte da definição de serviço público de televisão (...) esperar que a Caixa Geral de Depósitos nos ofereça um jantar que seja condizente com os tempos que vivemos e eu não possa ser acusado de estar aqui por uma qualquer guloseima (...) se forem inquiridos digam que eu estive aqui mas não disse absolutamente nada, e que eu me comprometo a não colocar qualquer post sobre o assunto na minha página do Facebook, deixo, por isso, antecipadamente o meu muito obrigado a todos".
Ler mais em:
http://expresso.sapo.pt/cavaco-ironiza-sobre-comentarios-acerca-do-seu-silencio=f768982
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A "Troika", os pactos e as guerras
Em 17 de Maio de 2011 foi assinado o “Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica” entre Portugal - cujo governo era na altura liderado por José Pinto de Sousa (mais conhecido por engenheiro Sócrates) - e o FMI, BCE e a EU, a denominada “troika”.
“Troika” é um termo russo que significa em política um conjunto de três personagens e que na linguagem do dia-a-dia designa um carro puxado por três cavalos alinhados lado a lado. Escolham.
O memorando foi assinado pelo Ministro de Estado e das Finanças, pelo Governador do Banco de Portugal e pela Comissão Europeia. É um documento cuja leitura é muito interessante para a aferição das declarações dos seus apoiantes (cada vez em menor número) e dos seus opositores (cada vez mais alinhados com as críticas na altura feitas pela designada “esquerda radical”, PCP e BE).
A tradução para português do documento original escrito em inglês foi feita mais tarde, salvo erro em 25 de Maio: http://www.portugal.gov.pt/media/371372/mou_pt_20110517.pdf.
É um pormenor insignificante dado que o “inglês técnico” está, como se sabe, rápida e facilmente ao alcance de qualquer um, em particular dos “engenheiros”.
No entanto, numa espécie de preâmbulo, a tradução do referido memorando sublinha que “O idioma da versão original e oficial do Memorando em referência é o inglês. A presente versão em português corresponde a uma tradução do documento original e é da exclusiva responsabilidade do Governo português. Em caso de eventual divergência entre a versão inglesa e a portuguesa, prevalece a versão inglesa”.
Na altura, o PCP e o seu braço sindical, a CGTP, recusaram participar em qualquer reunião com a “troika”. Fizeram mal. Agora, designam aquele memorando como “pacto de agressão” e falam de “pátria”. Vocábulos que não deixam de ser estranhos. De facto, por um lado, em Agosto de 1939 foi assinado pelo então ministro soviético Molotov e pelo ministro da Alemanha nazi Ribbentrop um “pacto de não agressão”. Em linhas gerais, estabelecia que nenhum daqueles estados favoreceria os inimigos do outro, nem tão pouco invadiriam os seus respectivos territórios e, em dois protocolos secretos, efectuava-se a partilha dos territórios da Europa de Leste em zonas de influência.
Por outro lado e no que se refere à defesa dos interesses da “pátria” (termo que em tempos recentes era considerado fascizante, reaccionário), de acordo com Karl Marx "os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem" e "a acção comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação". Nem o PCP nem o BE renegaram o marxismo, o qual estabelece uma definição de pátria incompreensível com a das suas afirmações públicas de hoje.
Tanto o PCP como o BE, reclamam a paternidade dos remédios que hoje, mas só hoje, os economistas de diferentes quadrantes políticos prescrevem, nomeadamente a “renegociação” da dívida.
A Europa está em guerra, mas numa guerra de outro tipo das do passado. Não é militar mas económica e financeira e o seu resultado não será ditado por tropas comandadas pelos melhores generais, mas por interesses financeiros sem pátria e que nomeiam mandantes para a defesa dos seus interesses no mundo da política. Neste aspecto a “esquerda radical” acerta na “mouche” mas não identifica aquelas criaturas cá do sítio, por “consideração pessoal” ou “intelectual”, como fazem questão em sublinhar quando em público as defrontam. Consideração “política” é que não apregoam, como é razoável. No fundo, são oficiais do mesmo ofício e o companheirismo corporativo impõe-se como é por demais evidente. As guerras europeias caracterizaram-se por “troikas” e, também, por “parelhas”.
A 1ª Guerra Mundial (com uma duração de cerca de 4 anos) teve como protagonistas a “troika” dos netos da rainha Victória de Inglaterra: Guilherme II (último kaiser da Alemanha), Jorge V (rei do Reino Unido) e Nicolau II (último czar da Rússia). Todos primos, tudo em família.
Estranha família essa na qual Jorge ignorou um apelo do bolchevique Lenine para acolher o seu primo Nicolau, o que teria salvo este último.
A 2ª Guerra Mundial( com uma duração de cerca de 6 anos) foi, nos seus inícios, europeia com a “parelha” Inglaterra e França por um lado e, por outro, a Alemanha. Ambas as guerras foram de mortandade inimaginável quando comparada com qualquer das anteriores de qualquer época. Mortos: 19 milhões de soldados e 1 milhão de civis na 1ª, 20 milhões de soldados e 40 milhões de civis na 2ª.
Resultados da tecnologia “como matar muito”.
Claro que é tudo uma questão de escala e de sensibilidade (ficamos mais impressionados com a doença grave da vizinha do lado do que com os milhões de chineses que morrem à fome).
Abordou-se, resumidamente é certo, o contemporâneo. Considere-se, agora, uma guerra europeia, de “parelhas”, que teve directa influência no xadrez ibérico (Castela do lado da França, Portugal do lado da Inglaterra), nomeadamente no sucesso da dinastia de Avis (na batalha de Aljubarrota seguiram-se as novas tácticas guerreiras inglesas: combate apeado de uma cavalaria ligeira apoiado por archeiros, versus a cavalaria pesada tradicional). Refiro-me à “Guerra dos 100 anos”.
A guerra dos 100 anos cobre, de facto, um período de 116 anos (1337-1453) durante o qual se confrontam em território francês duas dinastias: a dos Plantagenetas e a dos Valois (ramo da dinastia dos Capetos).
Naquele tempo a Europa atravessava uma crise económica, demográfica, política e religiosa (“Grande Cisma do Ocidente” – A França apoia o papa de Avinhão, a Inglaterra o de Roma) e a guerra tem como principal causa as questões da Guiana (feudo da Inglaterra), da Escócia (católica, com a qual a França tem uma aliança de defesa mútua) e da Flandres (na esfera de influência inglesa e em constantes revoltas contra a França). A questão dinástica é apenas o pretexto oficial para a declaração de guerra. Quando Eduardo III, rei de Inglaterra, filho de Isabel de França, neto de Filipe “le Bel”, presta com muitas reticências, homenagem a Filipe VI, rei eleito pelos pares de França e sobrinho de Filipe “le Bel”, fica seu vassalo pelo feudo da Guiana (Aquitânia).
Esta situação é fonte de permanentes conflitos porque, na prática, um julgamento feito na Guiana podia ser objecto de recurso no tribunal de Paris e não no de Londres. O rei de França tinha pois o poder de revogar todas as decisões judiciais tomadas pelo rei de Inglaterra na Guiana, situação totalmente inaceitável para os ingleses que conduziu a uma declaração de guerra em 1337 acompanhada de uma reivindicação de direitos à coroa francesa por parte de Eduardo III.
Nos primeiros anos da guerra a Inglaterra vence em todos os campos, chegando o rei de França João II (filho de Filipe VI) a ser feito prisioneiro na batalha de Poitiers (1356) e detido em Londres, sendo libertado em 1360 pelo pacto de Brétigny. No período final da guerra a Inglaterra é vencida e perde todas as suas possessões em território francês com excepção de Calais, pelo pacto de Picquigny de 1475.
“Quem tudo quer tudo perde”.
Esta guerra do século XIV, resultante em parte da partilha de soberanias, durou mais de 100 anos. E esta, a do século XXI, também relacionada com a soberania de nações e que assola não apenas três países mas mais outros, quanto tempo durará?
Mais de uma geração certamente.
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Os primeiros condes portucalenses
Nos primórdios da nossa nacionalidade, as figuras dominantes e que poderiam condicionar o futuro eram os condes e os ricos-homens.
Hoje, na era “anti-trevas” existem, entre outras espécies, os “senadores” (pais do regime democrático), os “fundadores” (americanice), os “democratas” (que raramente seguem o povo mas dele se servem), os “antifascistas” (termo muito políticamente correcto), os “comentadores/analistas políticos” (máximas sumidades juntamente com os advinhos da palma da mão ou com bola de cristal mas com diploma, por vezes de valor discutível), os “mandantes” na política de hoje e que condicionam o nosso futuro (leia-se “chefes” da finança ou da economia, os quais são quem mandam nos políticos - seus subordinados ou homens-de-mão de amanhã, se Deus quizer e ele infalivelmente quer sempre).
Assim, tal como a seguir se apresenta uma listagem dos homens grandes da nossa história nos séculos IX a XII, poder-se-ia fazer o mesmo para os tempos de hoje. Nesta listagem, no entanto, não figurariam políticos dignos desse nome mas apenas figuras gradas da nossa sociedade e do mundo da finança e da economia.
Poderia, portanto, elaborar facilmente tal listagem mas não o faço. Sofro hoje em dia de enjôos que me impedem de o fazer. As minhas desculpas por este hiato voluntário.
A nossa história é rica em ensinamentos os quais, dada a natureza humana, são facil e infelizmente esquecidos. Se assim não fosse não haveria deficit ou dívida pública ou privada.
Na memória do nosso passado esqueceu-se que a riqueza resulta do trabalho, da terra, de excepcionais heranças ou, também, de criterioso aforro ou de cuidada gestão.
D. Pedro “O Cru” foi rico pelo aforro mas depois veio a pobreza, D. Manuel “O Afortunado” (e que de maneira, era considerado o merceeiro da Europa) herdou as ricas especiarias das Índias mas depois veio a desgraça filipina (pós Filipe I). Veio o ouro do Brasil e dele se aproveitou D. João V (o príncipe mais rico da Europa). A seguir? Desgraças. Desgraças resultantes de reis imbecis (D.José), loucos (D.Maria I), “estranhos” (D. João VI), “varridos” (D.Miguel e o mano D. Pedro IV), “reféns” da autoridade das nobrezas europeias (D. Maria II, D.Pedro V), presos nas decisões pelas redes partidárias (D. Carlos). Opiniões eventualmente erradas do que peço antecipadamente desculpas.
Não vou abordar a 1ª República nem a ditadura (de Sidónio ou de Salazar) porque, por um lado sou republicano e, por outro, não gosto de vaidosos e tenho saudades da honestidade e da competência, venham elas de onde vierem.
Adiante.
Os primeiros condes em território português
A palavra conde vem do latim comes, comitis, que significa em latim “companheiro“. No período imperial o comes, além de familiar do monarca, desempenhava funções precisas e fazia parte do conselho de estado do imperador: “...nos cem anos que decorreram desde Constantino até aos filhos e netos de Teodorico o Grande, pode dizer-se com toda a verdade que todo o esplendor do Império estava nos Condes (…). No tempo dos romanos não se limitava a administração destes Condes a uma vila ou cidade, como depois praticaram os godos, mas estendia-se a toda uma grande região...”.
Nos reinos bárbaros mantém-se de início essa acepção e essa função, as quais evoluem para a de senhor feudal, tenente de terras denominadas condado. Nos reinos neocristãos da Península Ibérica os condes exercem funções públicas e estão na dependência do rei.
Nos inícios da história portuguesa o título não foi usado, competindo ao rico-homem as funções públicas do antigo conde leonês. De facto, só há notícia de um conde no reinado de D. Sancho I (D. Mendo de Sousa) e de D. Afonso III (D. Gonçalo Garcia de Sousa), os quais seriam os primeiros casos em que se deu o título separado do exercício de funções públicas, como passou a ser usado com frequência a partir do século XIV.
Nos primeiros trezentos anos da monarquia portuguesa não há nota que na corte houvesse outro título que o de conde. No tempo de D. Dinis, os Condes de Barcelos, no de D. Fernando, os condes de Ourém, no de D. João I, os condes de Arraiolos. Então é criado o primeiro título de duque na pessoa do seu filho bastardo, D. Afonso duque de Bragança.
Posteriormente, na pessoa do primogénito do duque de Bragança, é criado o primeiro título de marquês, o de marquês de Valença. Até à data em Portugal apenas havia seis condes e quando D.Manuel I criou o conde de Portalegre não havia em Portugal senão oito deste título. Desde então o título tenderá a integrar-se na hierarquia dos graus da nobreza na época moderna: duque, marquês, conde, visconde (vice comes, aquele que representa o conde já aparece no direito romano), barão.
Ricos-homens
O rico-homem, com direito ao título de Dom (dominus), é o grau mais elevado da nobreza na estratificação social dos primeiros séculos da monarquia portuguesa (séculos XII a XV). Classe de enorme importância tinha o seu poder assente em avultados bens e na autoridade proveniente do exercício de cargos públicos. Na maioria dos casos, o rico-homem era um nobre de linhagem, ou seja, de ascendência fidalga pelo menos até aos bisavôs. No entanto, tal condição não era essencial podendo o rei “fazer“ ricos-homens, contrariamente aos infanções, grau de nobreza imediatamente inferior, fidalgos de linhagem por definição e que por isso não podiam ser “criados“ pelo monarca. Etimologicamente o termo também se liga à ideia de poder: rico deriva da palavra germânica reik, poder. As funções do rico-homem dentro do seu distrito (no qual exercia jurisdição completa e gozava de total imunidade perante o fisco) equivalem às do conde na monarquia leonesa, título que se oblitera nos primórdios da monarquia portuguesa. No século XV o significado da expressão apagou-se por completo, constando o seu mais antigo emprego nas “Ordenações Manuelinas“.
O Condado Portucalense
Geralmente é assim designado o território cujo governo foi confiado ao conde D. Henrique de Borgonha, como dote de casamento da sua filha bastarda D. Teresa, por D. Afonso VI rei de Leão e Castela (que também se intitulava imperador da Hispânia), segundo filho de Fernando Magno, o qual, por testamento, deixou o seu reino dividido pelos seus três filhos: Sancho com Castela, Afonso com Leão, Garcia com Galiza e Portugal. O condado confiado a D. Henrique (filho do duque de Borgonha, sobrinho de D. Constança mulher de D. Afonso VI, sobrinho-neto de S. Hugo abade de Cluny) tem uma extensão de difícil delimitação, com excepção da faixa ocidental que ia desde o rio Minho até ao rio Tejo. A Norte, a fronteira só em parte seguia o curso do Minho, não sendo conhecida com rigor para lá dele passando provavelmente a sul do rio Lima e do território de Chaves. A Oriente, ao norte do Douro estendia-se desde a Terra de Bragança e a de Panóias e a sul do Douro entre Lamego e o Côa. A fronteira meridional dependia da posição dos muçulmanos. Este território, antes de entregue a D. Henrique, estava integrado na Galiza governada pelo conde. D. Raimundo.
Condes, ricos-homens e infanções no território portucalense
Pode considerar-se que o período do primeiro condado portucalense se estende de 868 a 1071, com início no reinado de Afonso III das Astúrias e fim no de Garcia II da Galiza e Portugal. O segundo condado portucalense inicia-se em 1096 com D. Henrique e termina em 1139 com a aclamação de D. Afonso Henriques como rei na sequência da batalha de Ourique. Listam-se a seguir as personagens mais frequentemente citadas na bibliografia, no período de 868 (início do 1º condado portucalense integrado no reino de Leão e Castela) a 1128 (batalha de Ourique, aclamação de D. Afonso Henriques como rei):
868: D.Vímara Peres (1º conde do condado portucalense, sucede-lhe o seu filho Lúcido Guimarãis).
871: D. Hermenegildo Guterres . 872: D. Odoário de Lugo. 878: D. Diogo Fernandes (conde portucalense, casado com a condessa D. Onega; pai de D. Mumadona **); D. Hermenegildo ou Mendo Gonçalves ; D. Guterres Mendes e D. Aires Mendes (filhos do conde D. Mendo Gonçalves); D. Gundesinho Eris. 950: D. Gonçalo Mendes. 960: D. Rodrigo Tedones. 1002: D. Mendo Gonçalves; D. Toda (condessa portucalense, mulher de D. Mendo Gonçalves); D. Nuno Alvitiz; D. Mendo Nunes “O Grande “ ; 1008: D. Alvito Nunes. 1017: D. Mendo da Luz (infanção). 1034: D. Gonçalo Trastamires da Maia (infanção). 1064: D. Sesnando Davides (senhor do condado de Coimbra; moçárabe natural de Tentúgal, ex-vizir de Sevilha, nomeado por D. Fernando I embora fosse considerado como inimigo pela nobreza portucalense; casou com D. Loba Nunes filha de D. Nuno Mendes, último conde do 1º condado portucalense). 1068: D. Mónio Viegas de Ribadouro (infanção, tio-avô de Egas Moniz). 1071: D. Nuno Mendes, último conde do 1º condado portucalense. 1096: D. Raimundo. 1096: D. Henrique de Borgonha (conde portucalense). 1112: D. Teresa (condessa portucalense). 1128: D. Afonso Henriques (príncipe).
** Mumadona Dias foi com certeza uma das mulheres mais importantes da região portucalense. Foi a iniciadora da dinastia dos Mendes que governou o Condado Portucalense desde 950 até 1071. Filha de Diogo Fernandes e de Onega Lucides era, talvez, sobrinha de Afonso III de Leão. Casada com Hermenegildo (ou Mendo) Gonçalves, chamou a si, quando enviuvou, a governação de Guimarães e do território que se estende desde a Galiza até Coimbra e do mar até ao Tâmega (a ela se ficou a dever a construção do castelo de Guimarães e do mosteiro de S. Mamede). Quando Bermudo II de Leão morre (999), deixa a educação do seu filho (o futuro rei Afonso V) ao cuidado do conde Mendo Gonçalves, neto da condessa Mumadona Dias. Foi durante a dinastia dos Mendes que se criou a sul do Douro o condado de Coimbra, com população de maioria moçárabe.
Ref. “Dicionário de História de Portugal” de Joel Serrão; “Origem do Título e da Dignidade dos Condes” de António Pereira de Figueiredo.